Juros da dívida até 2027 seriam suficientes para financiar mais de duas “bazucas” europeias

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Juros da dívida até 2027 seriam suficientes para financiar mais de duas “bazucas” europeias

Por Admin há 1 ano Diversos

Os próximos cinco anos vão contar com um crescimento de 5,1% por ano dos juros da dívida e por um crescimento constante e preocupante da dívida pública para um montante recorde de quase 282 mil milhões de euros.

O preço da dívida pública vai disparar mais de 50% nos próximos dois anos. Segundo as últimas previsões do Governo explanadas no Programa de Estabilidade 2023-2027 (PE 23-27), a fatura dos juros da dívida pública vai passar de 4,7 mil milhões de euros em 2022, cerca de 1,96% do PIB, para 7,4 mil milhões de euros já em 2025 (o equivalente a 2,8% do PIB). E não ficará por aqui.

As estimativas apontam para que, após 2025, o fardo dos juros continue a crescer a um ritmo médio de 5,1% por ano para um valor recorde de 8,5 mil milhões de euros em 2027. Isto significa que, depois de em 2022 ter-se alcançado a despesa com juros mais baixa desde 2005, nos próximos cinco anos, os contribuintes pagarão quase 38 mil milhões de euros de juros sobre a dívida pública nacional.

Falamos de uma quantia correspondente a mais de dois Planos de Recuperação e Resiliência (PRR) ou o suficiente para construir cinco aeroportos de raiz em Alcochete. A confirmarem-se estes números, “perspetiva-se uma inversão da trajetória de redução dos encargos com juros no PIB iniciada em 2015, estando previsto um aumento de 0,8 pontos percentuais do PIB entre 2022 e 2027″, refere o Conselho das Finanças Públicas, no relatório de análise do PE 23-27.

O impacto da subida dos juros na gestão da dívida será de tal ordem, que o aumento da fatura estimada com os encargos com juros para o período 2022-2027 anulará por completo a redução conseguida entre o final de 2014 e 2022.

“A manter-se a estratégia das ‘contas certas’ para o futuro, se aumentar o peso dos juros, o Governo vai cortar/cativar noutra despesa qualquer. E, por isso, o défice deve manter-se próximo da linha de água”, refere José Cardoso Moreira, professor da Faculdade de Economia da Universidade do Porto.

A subida da fatura dos juros nos próximos anos será causada por duas dinâmicas:

  • Subida da taxa de juro: o Governo estima que a taxa de juro da dívida passe de 2% em 2022 para 2,3% este ano, suba para 2,7% em 2024 e mantenha-se nos 2,8% até 2027.
  • Aumento da dívida: o stock da dívida pública passará de 276,5 mil milhões de euros no final do ano passado para um valor recorde de quase 282 mil milhões de euros em 2027.

“Com o aumento das taxas de juro que tivemos este ano e que, provavelmente, vão persistir, pelo menos até ao final de 2024, é natural que a dívida que vamos emitir a uma taxa mais alta para substituir a dívida que expira com taxas baixas do passado leve a um aumento do pagamento dos juros”, refere Ricardo Reis, professor na London School of Economics.

É por esse motivo que Ricardo Reis destaca a “importante prioridade de o BCE controlar a inflação até ao final de 2024, para que as taxas de juro possam baixar.” Se isso acontecer, o professor da London School of Economics acredita que, depois do aumento esperado dos juros em 2024, irá registar-se uma redução nos anos seguintes e a situação será gerível. “Mas, se o BCE falhar, então a fatura dos juros será uma enorme preocupação” prevê.

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